Introdução

O setor da segurança é ainda um setor bastante invisível na cadeia de valor:

Localizado muito a montante: • complementar do setor da construção, manutenção e operação de edifícios, bens e serviços.

 É como um seguro:

• O benefício da segurança é apenas apreendido como o custo da não segurança em situações excecionais;

• Enquanto que o custo da segurança é sentido continuamente;

• Há apenas pequeno sentimento de benefício contínuo no cumprimento de regulamentação.

Logo, sendo a perceção de custo permanente e a de benefício excecional, a opção é sempre a de minimizar o custo da segurança e nunca a perspetiva de maximizar ou sequer rentabilizar o investimento. Ignora-se neste raciocínio comum, que o custo da não segurança, ainda que excecional, é usualmente calamitoso na dimensão.

Ainda assim, a situação vem melhorando com:
– Maior visibilidade da segurança;
– Maior cumprimento de requisitos legais para evitar coimas
– Mais regulação;

A população tem uma relação ambígua em relação à segurança:
– Coletiva ou genericamente, consideram que a segurança é importantíssima e que se deve fazer mais por ela em termos de sociedade, especialmente quando existem incidentes mais geradores de alarmes sociais;

– individual e especificamente, o cidadão tem uma falsa perceção de segurança e acha que não lhe compete atuar no seu espaço próprio, nem sequer se preocupando com isso, muitas vezes passando rapidamente responsabilidades.

Resultado: o posicionamento geral é que cabe a outros zelar por maior segurança.
– Geralmente projetando para o Estado uma função de responsabilidade quase absoluta, quando a obrigação do Estado é a de acautelar, providenciar e regular a proteção.

O Estado, por sua vez, responde à segurança com:

– Reação em detrimento da prevenção;

– Adaptação de regulamentação comunitária:
• De forma lenta, muitas vezes de âmbito genérico ou em bloco e pouco ajustável à realidade local;

• Segue (ou na prática “traduz para Português”) filosofias de outros países, sem reflexão de conteúdos nacionais ou locais, copiando inclusivamente os defeitos e as lacunas de outras legislações.

– Consequentemente, a atualização legislativa fica desfasada de novas tecnologias, de novos equipamentos e de diferentes formas de trabalho.

O Estado responde ainda à segurança com:
– Órgãos de regulação nacionais por vezes confusos na atuação e independência:
• a regulação a ser vista como uma área de atuação do Estado e não como regulador independente, externo ao próprio Estado.

– Reação algo ambígua do Estado também:
• Quando entende intervir (geralmente em contexto de “casa roubada…”), fá-lo energicamente;

• Quando o tema é prevenir, há muito menor esforço.

Reação do Estado devido a inúmeras matérias em atraso que não permitem o foco no desenvolvimento de políticas de prevenção, impedem uma visão e política de longo prazo em muitos dos contextos de segurança.

Ainda assim, a ausência de incidentes de segurança, sejam de segurança pública, sejam outros incidentes de segurança onde o sector é mais visível, é vista como o principal diferenciador do turismo em Portugal . O disparar do turismo na actual década é a principal alavanca da economia, do emprego e da balança de pagamentos sobre o exterior!

Ou, o benefício de segurança é enorme e é negligenciado! 

A inexistência de incidentes significativos provocados por causas humanas imediatas (negligência, erros de construção, pequeno dolo, etc.) significa que as normas e procedimentos utilizados estão a ter resultados positivos (ou seja, estatisticamente, estamos a ficar do lado certo da distribuição de probabilidade).

– Esse mérito não é eminentemente estatístico, mas é resultado das ações do setor da segurança.

Esta é a dimensão que mais alto fala da importância e relevância do setor da segurança no estádio atual.

Por outro lado, a inexistência de incidentes provocados voluntariamente (atos de terrorismo, crime organizado, etc) significa que Portugal está fora da rota de atuação última do terrorismo internacional e/ou que as forças de segurança têm sabido prevenir as eventuais ameaças existentes:
–  O mérito deste sucesso também não é apenas estatístico, mas tem muito a ver com a simpática invisibilidade internacional de Portugal, com as características geográficas do território, os traços sociais, culturais e demográficos dos Portugueses;

–  Sem tirar mérito às forças de segurança, com um trabalho também ele invisível das autoridades e do setor da segurança.

Finalmente, a inexistência de grandes desastres de origem natural, contribuem para uma imagem de segurança do País:

– O mérito deste sucesso é apenas estatístico.

Esperemos que um dia que a estatística não esteja do nosso lado, se perceba o contributo e o valor do setor da segurança:

– Identificando os incumpridores nas situações que obrigam a continua atenção e prevenção (risco moral observável);

– Reforçando estratégias e protocolos de prevenção para o futuro;

– Minimizando perdas e custos decorrentes de grandes desastres.